As
múltiplas formas de exclusão social, bem como as mudanças na forma de seu
combate, têm transformado a noção de igualdade e diversidade entre o século XX
e XXI. Fala-se muito em inclusão sem que
se tenha o cuidado de entender que para incluir é necessário compreender as
múltiplas formas de exclusão que permeiam o nosso cotidiano. Sobretudo no que
diz respeito ao Sistema Escolar.
Embora
a inclusão escolar seja um tema que tem sido consideravelmente discutido, sua
complexidade possibilita uma série de discussões que não consegue esgotar seu repertório.
Paulo
Freire trabalhou a questão da exclusão em diversas obras, sempre foi sua
preocupação entender a fragilidade do educando para incluí-lo de fato enquanto
sujeito de sua história. No seu livro “Pedagogia do Oprimido”, obra escrita no
ano de 1968, Freire inova ao
apresentar o oprimido como sujeito capaz de opinar de modo fundamental na
construção de uma pedagogia . Ele discutiu de modo claro, os desejos e
confusões que o opressor consegue despertar no oprimido, chegando a confundir
os objetivos de suas lutas. Contudo, acreditava que propiciar autonomia a esse
público, seria a forma correta de alcançar a educação.a que atendesse realmente
às necessidades do seu meio.
Quando
falamos em inclusão, temos idéia de quão abrangente ela é? Pode-se perceber
claramente quando o assunto é inclusão, que os professores se reportam
especificamente para os alunos com deficiência, esquecendo que desde Salamanca
a expressão educação inclusiva tem um alcance que vai de pessoas com dificuldades de aprendizagem decorrentes
de condições econômicas e socioculturais, até pessoas com algum tipo de
deficiência. Crianças negras, adotadas, obesas, com qualquer característica que
as diferencie do grupo, são excluídas todos os dias nas nossas salas de aula,
sem que os professores percebam que tais alunos também necessitam ser
incluídos.
A
exclusão muitas vezes se dá de modo sutil, sobretudo quando nos reportamos às
salas de aulas, onde alunos com trajetórias diferenciadas têm tratamento e são
exigidos de modo absolutamente igual; ou mesmo quando existe um tratamento
diferenciado que por não ser pensado em sua totalidade, acaba marginalizando o
indivíduo ao situá-lo à margem das atividades cotidianas e ainda assim,
acredita-se que esses alunos estão sendo incluídos no sistema escolar.
A
questão é muito mais complexa e exige uma abordagem minuciosa para determinadas
situações. O que não podemos fazer é tratar de um tema tão abrangente como se
estivéssemos falando simplesmente de uma postura paternalista de inclusão sem
uma compreensão da sua profundidade.
Perceber
e respeitar a diversidade não é uma tarefa simples, o ensino tradicional nos
ensinou a trabalhar com grupos homogêneos, esquecendo que na realidade tal
homogeneidade inexiste. Perrenoud discute a diferenciação entre os alunos
citando Bourdieu quando trata da bagagem cultural que cada indivíduo traz e
como essa diferença poderá familiarizar ou exilar o aluno em função do que cada
um apreendeu ao longo de sua vida, analisando os vários aspectos que permeiam a questão. Tratar os alunos
como iguais em direitos e deveres , quando na realidade é evidente que são
muitas as diferenças entre eles, acaba por favorecer uma parte deles em
detrimento dos demais. O que traz á tona a discussão de que a diferenciação
poderá beneficiar as elites, dependendo do modo como o profissional desenvolva
a sua prática. Em seu livro Pedagogia na
Escola das Diferenças, ele defende que
os percursos são necessariamente diferenciados, ainda que não pareçam a
primeira vista, uma vez que a história de vida, as aspirações e até mesmo a atenção que o aluno tem a
determinadas aulas interferem no que cada um aprende,sendo portanto impossível avaliar o percurso de
cada aluno. Desse modo, afirma que toda proposta didática será inadequada para
uma parcela dos alunos. Portanto, faz um alerta para que jamais se espere por
resultados espetaculares, mas que se tenha consciência de que trata-se de um
longo percurso em que nenhum esforço é perdido.
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