Compreender
o contexto grego em que surgiram as reflexões científicas dos seus pensadores é
fundamental para entender a ciência através de uma perspectiva histórica. A
primeira parte do livro traz essa discussão apresentando os principais aspectos
que fizeram da cultura grega um marco, capaz de influenciar diferentes culturas
ao longo dos séculos.
Foi
no período homérico que as bases da civilização se desenvolveram. No período em
que prevaleceu a estrutura palaciana a escrita tinha um papel fundamental na
vida econômica e sócia, contudo, quando essa estrutura caiu, a escrita que até
então era utilizada na fiscalização e controle, acaba por desaparecer. Com o surgimento
da polis veio uma série de transformações que possibilitou o reaparecimento da
escrita, agora com novas funções, dentre as quais a divulgação de aspectos da
vida social e política. Toda a noção de função social passa por modificações e
a tomada de decisões passa a considerar tanto o caráter humano quanto o público
e os homens passam a controlar melhor seus destinos. Contudo, as leis eram
promulgadas e exercidas por quem conhecia a tradição e os mitos, uma vez que a
religião controlava completamente as atividades humanas.
Na
economia mercantil a própria dinâmica social que restringia a noção de
cidadania que excluía mulheres, escravos e estrangeiros tornou-se objeto de
reflexão. Um ponto de destaque interessante é o papel das mulheres gregas.
Levando em conta a diferença entre trabalho manual e trabalho intelectual,
tendo em vista que foi esse modelo de organização que permitiu o surgimento da
filosofia na Grécia, na medida em que pôde liberar os homens para o trabalho
intelectual, uma vez que os escravos e as mulheres se encarregavam do trabalho
manual.
Desse
modo, pode-se dizer que o desenvolvimento da polis foi fundamental para o
nascimento do pensamento racional. A partir do desenvolvimento mercantil a
idéia do mito começa então a ser rompida. A natureza passa a ser investigada
como fonte de respostas.
Os
filósofos gregos elaboraram explicações sobre a origem do universo de formas
diversas, apesar disso, iniciaram uma nova forma de ver o mundo a partir de
suas concepções.
Para
melhor compreender o contexto em que surgiu essa filosofia, é preciso
considerar as guerras e as diferenças culturais entre as cidades gregas.
Quando
Esparta ganha a Guerra do Peloponeso, não destrói a cultura ateniense, apenas
trata de institucionalizar esse conhecimento.
Entre
tantos pensadores, alguns tiveram destaque em suas proposições.
Criticados
pelo relativismo, os sofistas elaboraram
um pensamento que ultrapassou o seu tempo.A ênfase no indivíduo que molda e é
moldado pela cultura e pelas condições sociais é uma característica do sofismo.
Defendiam que as instituições da polis eram construções humanas relativas a uma
cultura. Desse modo, a centralidade no homem e o relativismo marcam o pensamento
sofista.
Sócrates
tinha a idéia inovadora de que o conhecimento não poderia ser simplesmente
transmitido como regras previamente estabelecidas, o indivíduo só alcançaria o
conhecimento através de si mesmo. Reconhecer a própria ignorância seria o
principal caminho para o saber. Não era no conhecimento da natureza que ele
estava interessado, mas no conhecimento dos homens e da sociedade. Ele
introduziu a questão dos conceitos universais e da indução. A partir de então,
o homem passa a ser objeto de conhecimento rigoroso.
Platão
foi professor de Aristóteles. Para ele, o conhecimento deveria possibilitar o
governo de uma sociedade justa. Seu argumento era de que existiam dois mundos:
o mundo da idéias e o mundo das coisas sensíveis. O verdadeiro saber viria do
mundo das idéias.
Aristóteles
diferia de Platão no seu entendimento acerca da política, enquanto em Platão era
considerada objeto de conhecimento e ação, em Aristóteles a política
restringia-se a objeto de estudo. Seu pensamento serviu de base para muitos
outros pensadores, sobretudo em razão de seu rigoroso método de chegar ao
conhecimento e sem sombra de dúvidas, o mais próximo do pensamento racional que
o mundo grego foi capaz de elaborar. Ele considerava fundamental na busca desse
conhecimento usar tanto a indução como a dedução. A indução seria um estágio
inicial, enquanto a dedução seria a via de raciocínio mais importante.
Toda
a filosofia cristã foi fundamentada nos escritos de Platão e Aristóteles, que
foram traduzidos pelos árabes. Agostinho e São Tomás de Aquino quando conhecem
esse material passam a fundamentar a teoria do cristianismo. Pode-se dizer,
portanto, que Platão e Aristóteles são os fundadores da nossa cultura, eles
tinham um método para a produção do conhecimento. Ambos, assim como Sócrates, eram
contrários aos sofistas, sobretudo ao relativismo. Acreditavam que o
conhecimento tinha uma função social. A formação de cidadãos passou a ser
encarada como uma tarefa fundamental com vistas à transformação, ou mesmo a
manutenção da sociedade.
Pode-se
dizer que todo conhecimento vem da discussão sobre o divino, ainda que para
criticá-lo (Marx foi uma exceção, com seu materialismo histórico.)
Enfim,
vale fazer uma reflexão de como a influência da cultura grega está presente em
nossa cultura. É interessante perceber como o cordel tem características
semelhantes à cultura grega, na medida em que também conta aventuras reais. O
serviço militar é outro exemplo disso: seguimos a mesma lógica do serviço
militar espartano, entre outros aspectos, temos a mesma lógica da
obrigatoriedade do alistamento. Assim como os controles que a nossa escola mantém
vem da lógica espartana.
O
livro é fundamental para quem faz mestrado ou doutorado na medida em que compreender
a História que influencia nossa cultura é fundamental para ter uma visão
crítica de nossas instituições e então aventurar-se a compreender e fazer
ciência.
Por Aparecida Cunha
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