Em diferentes
escolas de diferentes lugares, com as mais diversas realidades sociais, existe
um drama silencioso que adentra no cotidiano dos alunos envolvidos causando
dor, medo e algumas vezes consequências trágicas. Estamos falando do bullying.
De acordo com Aramis A. Lopes Neto, Sócio Fundador da Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infancia e à Adolescência (ABRAPIA).
Coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre
Estudantes:
“Por definição, bullying compreende todas
as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação
evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e
angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder”.
(NETO,2005).
Em seu artigo,
Bullying – comportamento agressivo entre estudantes, ele diz ainda:
A adoção universal do termo bullying
foi decorrente da dificuldade em traduzi-lo para diversas línguas. Durante a
realização da Conferência Internacional Online School Bullying and Violence, de
maio a junho de 2005, ficou caracterizado que o amplo conceito dado à palavra
bullying dificulta a identificação de um termo nativo correspondente em países
como Alemanha, França, Espanha, Portugal e Brasil, entre outros18”(NETO,2005).
Embora sua
existência seja uma realidade indiscutível, no Brasil, o tema só passou a
despertar interesse na comunidade científica por volta dos anos 80, e ainda
assim, sem muita expressividade. Consequentemente, sem a devida atenção, o
problema tem destruído muitas vidas, enquanto tratado com naturalidade.
Naturalmente, trata-se de uma discussão consideravelmente complexa, uma vez que
põe em pauta a questão da violência,
suas diferentes formas e o despreparo do sistema escolar para lidar com essa
situação.
Em algumas
situações, crianças e adolescentes vítimas de bullying acabam sucumbindo ao
sofrimento mudo que se prolonga, sem que os adultos de referência consigam
reverter a situação, na maioria das vezes por não compreender a dimensão de
seus reflexos, e acabam tirando a própria vida como forma de se libertar da
tortura que parece limitar seus horizontes para uma realidade de humilhação e
limitação. Quando determinada situação acontece, existe uma comoção em torno do
problema, no entanto, a discussão restringe-se ao caso específico, sem que
exista um aprofundamento da questão.
Outras vítimas
reagem de modo adverso e acabam protagonizando tragédias, chegando a matar
grande número de pessoas em suas
escolas, como forma de provar que não são insignificantes e que podem causar
grande comoção. Além de revidar toda a dor que sentiram durante longo período
de tempo, sem o respeito de seus agressores e sem o empenho da instituição
escolar para reverter o problema; a vítima vinga-se também dessa omissão ao causar
dor a diferentes atores da comunidade escolar. Pesquisadores como Watson,
Andreas, Fischer e Smith (2005) apresentam os fatores ambientais como
significativos no comportamento dos estudantes atiradores, contudo, ressaltam a
necessidade de que mais pesquisas procurem decifrar o que poderia motivar
adolescentes a atos tão medonhos.
No artigo “De
columbine à virgínia tech: reflexões com base empírica sobre um fenômeno em
expansão”, Vieira, Mendes e Guimarães apresentam argumentos que levantam a
possibilidade de que o bullying teria forte influência no desfecho de tragédias
escolares.
Um relatório detalhado apresentado
pelo Serviço Secreto dos Estados Unidos em parceria com o Departamento de
Educação dos Estados Unidos (United States Secret Service & United States
Department of Education, 2004) revisou mais de 30 episódios (entre massacres e
tentativas), buscando compreender o fenômeno e desenvolver possíveis propostas
de prevenção. O relatório afirma que não há um perfil característico dos
estudantes atiradores (nem psicológico nem demográfico), pelo menos não de
forma acurada. Chama a atenção, todavia, o fato do relatório não descartar que
há variáveis que podem ser identificadas em boa parte dos incidentes desta
natureza. Dentre estas, ressaltam-se a dificuldade dos atiradores em lidar com
perdas significativas e falhas pessoais, interesse por mídia violenta (filmes,
jogos, livros e outros), o fato de terem sido ou estarem sendo vítimas de
perseguições e humilhações de colegas, a manifestação de comportamentos
anteriores que sinalizavam que eles precisavam de ajuda, dentre outros.
(VIEIRA; MENDES; GUIMARÃES,2009).
Tais situações
têm razoável repercussão e conseguem espaço na mídia por algum período de
tempo. Sem que isso tenha um peso real na continuidade do problema. No entanto,
milhares de pequenas vítimas passeiam sob nossos olhares descuidados todos os
dias no cotidiano de nossas escolas. Não acreditamos e não esperamos que nossas
crianças tirem as próprias vidas ou saiam matando inocentes por aí. De fato, a
maioria não o fará, contudo, como está o desempenho de nossos meninos? Será que
nossas silenciosas vítimas estão conseguindo vislumbrar um projeto de vida
enquanto batalham todos os dias por um pouco de dignidade?
O processo de
aprendizagem perpassa por diferentes fatores, estar biologicamente bem, não
torna o indivíduo automaticamente apto ao conhecimento. É preciso despertar o
desejo pela descoberta, pela aprendizagem. É fundamental que exista uma
compreensão de porque estamos buscando esse conhecimento, em que ele nos será
útil. A autoestima tem um papel preponderante nesse processo.
É pertinente
dizer que perscrutar os reflexos do bullying no desempenho escolar dos alunos
envolvidos é fundamental para reverter os prejuízos causados.
Aparecida Cunha
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