A SÍNDROME QUE FAZ PESSOAS ACREDITAREM QUE PARENTES FORAM SUBSTITUÍDOS POR SÓSIAS
Cena do filme Mom and Dad (2017) - Divulgação/Imagens Momentum
Lançado em 2017, o filme Mom and Dad narra a ficcional saga de dois jovens que passam por um episódio inacreditável: durante 24 horas, o pai e a mãe tentam matar os próprios filhos, pois acreditam que eles são impostores.
Estrelado por Nicolas Cage, o filme não apresenta um caso isolado. Trata-se de uma histeria em massa faz com que inúmeros casais tentem fazer o mesmo com os familiares. Embora a história não seja real, uma síndrome muito bem documentada faz com que pessoas acreditem que estão dividindo o teto com impostores.
Entre as muitasdoenças psicológicasque um ser humano pode apresentar, os Transtornos delirantes de identificação (TDI) são alguns dos menos conhecidos. Pertencente a essa gama de doenças, a Síndrome de Capgras é, no mínimo, curiosa. Em sua pesquisa, o neurocientista, neuropsicólogo e Psicanalista Fabiano de Abreu Rodrigues traz à tona todas as características do delírio. Nesse sentido, seu artigo “Solução para Síndrome de Capgras” sugere algumas formas de tratar a doença. Segundo o autor, que é Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University, nos Estados Unidos, a Síndrome de Capgras pode se apresentar em diversos graus, do mais leve até o mais agressivo.
Uma vida de mentiras “A síndrome de Capgras é uma desordem na qual o doente acredita que seus familiares, amigos, cônjuges e até animais de estimação foram substituídos por sósias”, explica Fabiano. Sendo assim, o delírio inibe a capacidade que os pacientes têm de “se relacionar com pessoas que eles acreditam serem ‘impostoras’”. Manifestando-se de diferentes formas para cada paciente, a Síndrome de Capgras está ligada ao lobo frontal direito do cérebro. Sua causa pode estar “associada a transtornos psiquiátricos como esquizofrenia e transtornos de humor, bem como a doenças neurológicas como Alzheimer, Parkinson e lesões cerebrais”, explica Fabiano.
Ainda que não exista idade para desenvolver o delírio cognitivo, "pessoas com mais de 40 anos possuem taxas maiores para apresentar a doença". Em casos de Alzheimer, “15% dos doentes, em média, são identificados esta síndrome”. Em diagnósticos de esquizofrenia, a prevalência da doença foi "relatada em cerca de 15% dos casos”.
Origem de tudo
No início dos anos 1920, o psiquiatra francês Joseph Capgras recebeu uma paciente de 53 anos em seu consultório. Dona de casa, a mulher apresentava um diagnóstico que fugia de todos os transtornos conhecidos até então. Nas sessões, a paciente dizia ter certeza de que seu marido, filhos e trabalhadoras domésticas tinham sido substituídos por impostores. Foi assim que, ao lado de Jean Reboul-Lachaux, o psiquiatra descreveu, pela primeira vez, a Síndrome de Capgras. Quando diagnosticado com tal condição, o paciente “pode desenvolver ilusões psicóticas das pessoas como ‘sósias’ dos entes mais próximos, por muitas vezes denominando esses sujeitos de ‘impostores’”, segundo explica Fabiano. E é aí que nasce o problema.
Por dentro do cérebro
Atualmente, uma das teorias mais aceitas para o desenvolvimento da Síndrome de Capgras, de acordo com o neuropsicólogo, é “a ruptura de vias que conectam o lobo frontal a outras áreas cerebrais corticais e subcorticais”. Tal ruptura, por sua vez, seria causada pela “presença de HSB em regiões cerebrais profundas”.
Comum na “maioria dos idosos que apresentam algum tipo de distúrbio como a Síndrome de Capgras”, a chamada hiperintensidade da substância branca (HSB) pode “ser parte de um processo de envelhecimento ou de uma doença silenciosa”. Em resumo, portanto, a Síndrome de Capgras seria causada por uma “desconexão de áreas cerebrais que processam o reconhecimento facial”. Assim, por mais que os pacientes reconheçam seus familiares, eles não têm a resposta emocional que deveriam ter quando entram em contato com aqueles que amam.
Tratamento de dentro para fora “Atualmente as soluções são as mais variadas em termos clínicos, que vão desde remédios, até interferência psicanalítica”, conta Fabiano. Isso porque, segundo o psicólogo, “esse tipo de doença pode variar de níveis desde o mais leve até o crônico”. Em casos mais brandos, os antipsicóticos e anticonvulsivos “formam a base principal do tratamento da Síndrome de Capgras”, junto do acompanhamento psicológico. “Quando a doença se torna crônica, contudo, pode ser necessária a internação do sujeito”, conta. Nesse sentido, existem casos da doença nos quais os pacientes enxergam a si próprios como sósias. Assim, eles podem praticar atitudes auto-lesivas, a fim de acabar com o impostor. Em casos assim, o ideal éinternar o paciente, para protegê-lo de si mesmo.
"Estudos apontam que o tratamento cognitivo para pacientes já é possível ser realizado, não como cura total da doença, mas uma inibição do agravante dela perante aos neurotransmissores e mantendo a cognição das pessoas ativas", finaliza Fabiano.
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