Na sala de aula, as crianças fazem fila para pegar os cordéis,
empilhados em uma estante improvisada. A literatura regional, típica do
Nordeste, tem sido aliada de professores na Escola Municipal Doutor José
Novais, em João Pessoa, para contar a história de autores famosos, como
Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna e José Lins do Rego.
Os
versos e rimas também ajudam os alunos na compreensão de uma das obras
mais famosas do mundo, "O Pequeno Príncipe", do escritor Antoine de
Saint-Exupéry.
Essa iniciativa convive com o método tradicional
--a tabuada, por exemplo, ainda é utilizada em sala de aula -- e tem
ajudado a escola a superar a meta do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) desde 2007.
A instituição possui a maior nota entre as escolas municipais e
estaduais de João Pessoa. Também supera a média das escolas privadas da
capital paraibana. Atingiu 7,3 no Ideb 2015, quando a meta da escola era
6,0.
O cordel na sala de aula vai além da representação de um elemento
regional. É um dos fatores que ajuda a compreender o desempenho da
escola nos índices de avaliação, segundo explicou o diretor-geral,
Fernando Menezes. "O cordel é trabalhado pelos alunos dentro de uma
perspectiva mais ampla, na qual a leitura é explorada de diversas
formas. A partir da escolha da obra literária, os professores trabalham
de forma interdisciplinar, visando o melhor aproveitamento possível",
diz.
Prova disso é que os ensinamentos de Antoine de
Saint-Exupéry estão por toda a escola. Na entrada, por exemplo, os
alunos fizeram um jardim que passou a representar simbolicamente a rosa
da obra. No pátio, os desenhos nas paredes também mostram que os alunos
tiveram uma boa compreensão do livro. Para completar, em sala de aula,
eles fizeram os próprios cordéis recontando a história.
Cantinho da leitura
Há, em cada sala de aula da escola José Novais, um lugar especial: o
"cantinho da leitura". Segundo o bibliotecário Wellington de Souza, é
uma forma de levar os livros para perto dos alunos, uma vez que a
estrutura física da biblioteca não deixa os visitantes confortáveis.
"Eles gostam demais, e até reclamam se a gente demora a trocar os
livros. Os empréstimos são frequentes, e isso nos dá alegria. É uma
felicidade sem tamanho ver um aluno levando os livros para ler em casa",
destacou.
Os projetos de leitura e escrita desenvolvidos na escola já renderam prêmios e reconhecimentos do potencial da escola.
Segundo a vice-diretora Valéria Simoneth, não existe segredo para dar
certo. "Há, na verdade, compromisso de todos que fazem a escola. Só para
citar um exemplo, aqui, se um professor falta, o aluno não fica sem
aula. Logo encontramos outro professor para substituir. Muitas vezes, eu
mesma vou para a sala de aula", afirmou.
Depois do recreio
As regras disciplinares da escola incluem reunir os alunos após o
recreio no pátio para cantar o Hino Nacional, seguido do hino da escola.
Para finalizar, fazem a oração do Pai-Nosso e depois retornam para a
sala de aula, em fila e em silêncio.
Apesar da boa nota, os
diretores dizem que a escola também enfrenta problemas, como qualquer
outra escola pública do Brasil. A falta de verba e a violência no
entorno da escola são os principais deles.
"Temos ex-alunos que
foram mortos, crianças com pais presos, outras que tiveram algum parente
assassinado. A escola precisa enxergar essa realidade e buscar, junto à
família, ser uma ponta de esperança quando tudo parece desilusão", diz
Menezes.
O que é o Ideb?
Criado em 2007, o Ideb é o índice que avalia a qualidade dos ensinos
fundamentais e médio em escolas públicas e privadas a partir de dois
componentes: a aprendizagem em matemática e em língua portuguesa e a
taxa de fluxo (aprovação, reprovação e abandono escolar).
A
"nota" do ensino básico varia numa escala de 0 a 10. Conforme meta do
MEC (Ministério da Educação), o Brasil precisa alcançar até 2021 a média
6,0 nos anos iniciais do ensino fundamental.
O indicador é
divulgado a cada dois anos e é calculado com base nos dados do Censo
Escolar (com informações enviadas pelas escolas e redes), e médias de
desempenho nas avaliações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), como a Prova Brasil.
Por Valéria Sinésio/ UOL Educação
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