quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Crianças aprendem e pensam como cientistas


Crianças  em idade pré-escolar são capazes de tirar conclusões com base
 em análises estatísticas. Elas também aprendem por experimentos individuais 
e observação dos colegas. Essas são as características que levaram a pesqui-
sadora Alison Gopnik, do Departamento de Psicologia da Universidade da Cali-
fórnia em Berkeley, a concluir que os pequenos têm uma maneira de pensar e
 aprender muito similar à dos cientistas.
A constatação, que enfatiza a importância das experiências vividas pelas 

crianças de até 6 anos, pode ter implicações na maneira como se estrutura
 o ensino infantil.
 Para se chegar a esse resultado, publicado na última edição da revista
 Science, Alison fez uma revisão de dezenas de pesquisas anteriores que 
avaliaram os mecanismos de pensamento das crianças pequenas.
Ela defende que as crianças, mais do que os adultos, são capazes de
 propor teorias incomuns para resolver problemas. "Esse tipo de pensa-
mento hipotético reflete sobre o que poderia acontecer, e não sobre o 
que realmente aconteceu. E esse é um tipo de pensamento muito poderoso
 que usamos na ciência", diz Alison. Ela completa que a própria brincadeira 
de faz de conta, aquela atividade espontânea em que as crianças costumam 
se engajar, é "uma reflexão sobre esse raciocínio e compreensão profundos".

Mas como é possível saber que crianças pequenas ou até bebês, que ainda

 nem têm a fala desenvolvida, tenham a capacidade de fazer análises estatís-
ticas? A resposta vem de experimentos recentes que têm testado a capaci-

dade reflexiva de crianças cada vez mais novas.
Em um deles, por exemplo, bebês de 8 meses mostram-se surpresos

 quando o pesquisador retira de uma caixa cheia de bolas brancas, 
contendo apenas algumas bolas vermelhas, uma amostra com a maioria
 de vermelhas e poucas brancas. Alison observa em seu artigo que é como 
se os bebês dissessem: "Aha! A probabilidade de isso ter ocorrido por 

acaso é menor que 0,05".
Uma das pesquisadoras que atualmente se dedica a essa abordagem

 é a psicóloga Fei Xu, do Laboratório de Cognição e Linguagem Infantis
 da Universidade da Califórnia em Berkeley. "Em situações da vida real, 
estamos sempre em situações de incerteza. Então temos de pensar qual
 é a probabilidade de algo acontecer", explica a cientista. "Queremos 
saber se os bebês têm essa habilidade de raciocínio mesmo antes do

aprendizado da linguagem."
Outras experiências citadas por Alison foram bem sucedidas em demonstrar

que crianças também aprendem com suas experimentações individuais, 
que surgem em meio às brincadeiras, e ainda observando seus colegas. 
Os mesmos procedimentos utilizados pelos cientistas.

Nova visão
No passado, o entendimento sobre o raciocínio das crianças pequenas

 era de que elas eram seres ilógicos e só concebiam o aqui e o agora.
 Hoje, as escolas levam em conta sua capacidade de experimentação. 
Segundo a psicopedagoga Quézia Bombonato, presidente da Associação
 Brasileira de Psicopedagogia, existe a construção do conhecimento e 
não a simples transmissão de informação. "É o ato de fazer que, do
 ponto de vista neurológico, faz com que o conhecimento saia do sistema 
límbico, de memória a curto prazo, e vá para o córtex, que corresponde à

 aprendizagem efetiva."
A educadora Priscila Cantieri, coordenadora de Educação Infantil da Escola 

Santi, observa que a visão da infância hoje é muito diferente da que se via 
algumas décadas atrás. "Acreditava-se que a criança era uma tábula rasa e
 que a gente tinha que transmitir todo o conhecimento para ela", diz. "Hoje, a 
escola sempre inicia o conteúdo descobrindo o que as crianças pensam sobre 
o tema."
Para a educadora Roberta Bastos Ganan, do Colégio Humboldt, a capacidade

 de aprender com os colegas também é valorizada nas aulas. "Criamos pequenos 
grupos para discutir determinado assunto, em que cada um expõe sua opinião

 e busca chegar a algum consenso."
Para Alison, deve-se considerar que crianças em idade pré-escolar são

 cientistas naturais, para ajudá-los a entender os princípios da ciência formal.
 "A própria ciência pode ajudar a transformar a curiosidade e o brilho naturais
 da criança em melhor ensino e aprendizado."

O educador Silvio Barini Pinto, diretor do Colégio São Domingos, faz um

 contraponto a essa ideia. "Ao trazer o método científico para a pauta da 
educação de crianças, penso que se promove uma precipitação que pode
 embotar as experiências sensíveis, tão relevantes no desenvolvimento
 psicossocial." .
Fonte O Estado de S.Paulo.

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