Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
O DIA: Como surgiu a ideia de oferecer um curso de mediação de conflitos escolares?
LEILA: — Depois da tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, que
O que é ensinado no curso para os educadores?
Eles aprendem a lidar com situações difíceis, em que há descontrole
emocional, embriaguez e desrespeito das partes, conhecem diferentes
técnicas de comunicação, aprendem a ouvir o outro. Os professores
apresentam situações que viveram na escola e o grupo vivencia essa
encenação. O curso faz com que cada pessoa se coloque no lugar do
outro. Ela alarga seus horizontes e percebe que não é excluindo e
perseguindo, mas aceitando e incluindo que vamos viver em paz.
Na sua opinião, qual é a causa para tanta violência no ambiente escolar?
Há uma intolerância generalizada na sociedade. A violência escolar
Na sua opinião, qual é a causa para tanta violência no ambiente escolar?
Há uma intolerância generalizada na sociedade. A violência escolar
aumentou muito. O jovem não tem noção de dignidade, do respeito
pelo outro. Ele extrapola na brincadeira e causa uma dor moral grande.
Hoje o mundo é plural. Precisamos aceitar o desigual. Isso é uma questão
que a escola precisa trabalhar. São conflitos que antes eram solucionados
em casa, na escola, mas hoje tudo vai parar nos tribunais para que a
Justiça resolva.
A senhora acredita que, com a internet e as redes sociais, os casos de agressão se acentuaram?
Eu fui professora primária, em 1963, nos Anos Dourados. Naquela época
Eu fui professora primária, em 1963, nos Anos Dourados. Naquela época
também havia brincadeiras, provocações, o “patinho feio”. Mas quando o
aluno ia para casa, a agressão acabava ali. Hoje o espaço cibernético
potencializa o dano, que é mais violento e contínuo. A agressão fica 24 horas
no ar e atinge um universo muito grande de pessoas. Isso causa traumas
profundos nas vítimas.
De que forma as famílias podem ajudar a combater os casos de bullying?
Infelizmente, os pais trabalham e não podem estar presentes o tempo
De que forma as famílias podem ajudar a combater os casos de bullying?
Infelizmente, os pais trabalham e não podem estar presentes o tempo
todo para educar seus filhos. As crianças precisam aprender desde
cedo a respeitar o próximo. Os pais têm que ficar atentos quanto ao
comportamento dos seus filhos, principalmente, na internet. Eles devem
ser alertados, porque a responsabilidade civil por qualquer ato dos filhos
menores de idade será deles. São eles que vão ter que pagar indenizações
às vítimas. A questão é tão séria que está tramitando projeto do Código
Penal que pretende criminalizar o bullying. O jovem que vier a cometer
ato infracional terá que ser levado à Vara da Infância e Juventude. Se
for maior de idade, poderá ir para a prisão.
O curso foi inspirado em modelo argentino de mediação. Como funciona?
Na Argentina, a mediação processual é obrigatória. Nenhum processo
O curso foi inspirado em modelo argentino de mediação. Como funciona?
Na Argentina, a mediação processual é obrigatória. Nenhum processo
vai para a Justiça sem antes passar por mediadores que tentam solucionar
o conflito. Esse tipo de mediação representa uma das técnicas mais
eficazes de resolução prática de conflitos. Esse modelo de sucesso
extravasa para o universo escolar. A ideia do curso é ampliar esse
projeto, formando professores que atuem como multiplicadores.
Para montar o curso, a senhora pesquisou episódios de violência escolar que chegaram à Justiça. Que casos chamaram a sua atenção?
Na pesquisa que eu fiz, vi casos extremos como o de um ex-PM que
Para montar o curso, a senhora pesquisou episódios de violência escolar que chegaram à Justiça. Que casos chamaram a sua atenção?
Na pesquisa que eu fiz, vi casos extremos como o de um ex-PM que
matou o colega da turma da filha. Um outro jovem vai ser julgado sob
acusação de matar um estudante que brigou com a namorada dele,
em Campo Grande. Até situações como a da estudante que teve o
dedo esmagado porque tentou ir ao banheiro e o inspetor fechou a
porta da sala para impedir sua saída. E o de um colégio condenado
porque a professora arremessou tamanco na aluna.
Situações como essas levaram o Judiciário a registrar, em um relatório, que “a escola é autora, vítima e palco da violência”.
De fato, hoje as agressões vão às últimas consequências. Não só o que
Situações como essas levaram o Judiciário a registrar, em um relatório, que “a escola é autora, vítima e palco da violência”.
De fato, hoje as agressões vão às últimas consequências. Não só o que
bate, mas aquele que exclui e desconsidera o aluno, levando-o ao
isolamento e causando nele uma perda de autoestima e até a depressão.
Com o projeto, queremos conscientizar pais, professores e alunos
para que comecem a resolver seus conflitos conversando dentro da
própria escola.
POR MARIA LUISA BARROS/ O Dia
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