Seja cantando, batucando ou tocando um instrumento, a musicalidade é uma
das formas de expressão que acompanha o indivíduo desde o início da
vida. Reconhecer essa potencialidade e incluir a música na educação, de maneira integral, é um caminho fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças.
“A criança é movimento”, resume Renato Epstein, do Barbatuques, grupo
musical de percussão corporal. Mas se na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental I, as escolas, de forma geral, compreendem a importância de
estimular essa dimensão, com o avançar dos anos tendem a deixar esse
aspecto de lado, concentrando-se no intelecto.
Para Epstein, esse entendimento é um grande equívoco. “Uma criança
muito podada tem dificuldade de se tornar um adulto inovador, criativo,
que sabe se expressar”, explica o músico, que também é educador. “Nós
damos oficinas em ambientes corporativos e vemos muita dificuldade entre
os adultos de se soltarem, de usarem o corpo”, conta.
Incluindo a música na educação
Para incentivar a musicalidade dos alunos, independentemente de seu
grau de afinidade com a técnica, o primeiro passo é quebrar a noção de
que fazer música é difícil e que exige o domínio de um instrumento. Isto
porque, muitas vezes, os alunos se afastam da área por achar que não
são capazes de participar e integrar uma atividade musical.
O Barbatuques propõe a descoberta das potências musicais do próprio
corpo valendo-se de práticas como estalos de dedos, batidas de palmas,
sapateado e o som da palma da mão contra diferentes partes
Como proposta para incentivar ou retomar essa conexão, o Barbatuques
propõe justamente a descoberta das potências musicais do próprio
corpo valendo-se de práticas como estalos de dedos, batidas de palmas,
sapateado e o som da palma da mão contra diferentes partes – uma
abordagem que pode facilmente adentrar a escola.
“Ao fazer uma prática assim, interessante e desafiadora, a criança se
percebe como importante dentro do grupo, para que a música se realize,
pois sem ela o resultado ficaria diferente. O individual é importante na
realização da música, mas também o coletivo. Se ela não se perceber
naquele grupo, não terá a capacidade de ouvir e de aprender com o outro”, aponta Renato Epstein.
Outro aspecto importante destacado
pelos Barbatuques para o desenvolvimento da musicalidade do indivíduo é
aproximar a linguagem musical do cotidiano das crianças e jovens. “O
professor é fundamental para que o aluno entenda uma disciplina de
maneira mais lúdica, então o docente pode trazer uma batida de hip hop,
de funk, um ritmo mais familiar”, aconselha o integrante Charles Raszl.
Também nessa perspectiva entra a relevância de associar a manifestação musical com o brincar. Para Mauricio
Maas, também músico do grupo, as escolas ainda carregam a ideia de que o
tocar e o brincar não podem caminhar juntos: “é importante pensar no
contexto maior do tocar e do brincar. O Barbatuques traz uma linguagem
que é lúdica e que mostra que esses conceitos podem se aproximar muito”.
A música como uma linguagem acessível
Para o professor de música Victor de Souza, que trabalha com alunos da Educação Infantil do Colégio Santa Amália,
localizado na zona leste de São Paulo, a musicalização não é somente
uma introdução à música, mas uma forma de estruturar o que já é natural
para a criança.
O importante na hora de planejar uma atividade musical é trabalhar o pensamento lógico e uma abordagem lúdica
“Desde quando o bebê está na barriga
da mãe, ele já tem contato com o ritmo do batimento do coração, mas essa
noção vai se perdendo se não for trabalhada“, diz.
Victor conta que existem formas muito
simples de fazer isso, como quando durante a aula as crianças deitam no
chão e cantam algumas músicas balançando o corpo para sentir o ritmo da
música.
Outras atividades também propõem aos estudantes experimentar as noções de trabalho coletivo, intensidade do som, ritmo e melodia.
O professor afirma que o importante
na hora de planejar uma atividade é trabalhar o pensamento lógico e a
aproximação das crianças com a música mais formal de forma lúdica
e estimulando a criatividade.
Com os alunos sentados em círculo, o
professor sugere que um deles vá até a lousa e desenhe uma espécie de
partitura, onde símbolos indicam sons “grandes” ou “pequenos”, para que
os colegas reproduzam em um tambor ou com claves.
Em relação aos materiais, o professor
explica que as claves podem ser confeccionadas com cabos de vassoura e
que o tambor pode ser substituído por uma lata e, a exemplo dos
Barbatuques, é possível usar o próprio corpo.
“Mesmo que não tenha nenhum recurso, é
possível fazer as atividades até com a palma da mão. Na verdade, os
recursos não são a essência da musicalização em si”, reitera o
professor.
Por Claudia Ratti e Ingrid Matuoka/Centro de Referência em Educação Integral
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