sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Qual é a melhor forma de incentivar a leitura do seu filho?




Forçar uma criança a ler pode atrapalhar seu desenvolvimento natural. Mas infelizmente isso acontece com frequência, pois algumas famílias costumam antecipar essa situação. Um aluno na fase de Educação Infantil ou de séries iniciais do Fundamental está em processo de alfabetização, que acontece desde seu ingresso na escola. Esse desenvolvimento é muito espontâneo. O pequeno tem uma motivação, que é interna, e tem todo estímulo externo, trazido pela escola e família. Porém, temos que respeitar o tempo de cada um, pois a aprendizagem é individual. Não podemos pular alguma etapa desse desenvolvimento. Nesse sentido, a escola é que sabe dessa caminhada e entende o processo. Por não ser especialista na área, muitas vezes a família pode não compreender e tomar um direcionamento errado. Portanto, a ajuda por parte dos pais é mostrar para a criança a importância da leitura e qual a sua função social, mas sem obrigá-la a ler.
Pai e mãe tornam-se bons exemplos sendo leitores. O segredo é motivar e não exigir. De que forma? Ler para seus filhos, levá-los à biblioteca, à livraria e ter um ambiente letrado em casa. Esses são fatos que ajudam muito mais que atitudes formais de estudo. É a escola que vai orientar a família. Com mais de 30 anos na área de educação e também atuando como coordenadora pedagógica da Educação Infantil no Colégio Salesiano Santa Teresinha, situado na Zona Norte de São Paulo, eu percebi que se houver qualquer necessidade de um acompanhamento diferente, é a instituição que vai dar a orientação. Por isso, os pais devem tomar cuidado, porque às vezes uma expectativa grande acaba atrapalhando a criança, que passa por várias fases que precisam ser respeitadas. Se a família as antecipa, o filho pode se prejudicar, pois fica inseguro e frustrado ao não conseguir corresponder aos anseios.
A unidade escolar tem autoridade nesse processo, que tem de acontecer de maneira espontânea, com o pequeno estudante construindo seu saber de forma participativa, resultando no sucesso e desenvolvimento adequados. Mas, afinal, qual é a melhor forma de incentivar a leitura? Como inseri-la no dia a dia? É importante que seja um hábito diário e, sempre que possível, motivador, envolvente e prazeroso. Em casa, a família deve cuidar para que esses momentos não sejam didáticos, pois competem à escola.
A família não pode trazer para casa atitudes ou atividades formais escolares, mas ela pode incentivar, valorizar e motivar. A simples atitude de ir até uma banca de jornal com o filho(a) comprar uma revista ou um jornal – algo que está ficando raro por conta da tecnologia – e deixar a criança pegar uma história em quadrinhos ou outro tipo de publicação infantil, por exemplo, é uma forma muito boa de estimular, pois a insere nessa rotina. Deixá-la folhear revistas, gibis, livros e outros veículos de acordo com a faixa etária. Ler e trazer toda aquela magia da história ajuda muito, ou seja, fazer atividades lúdicas e motivadoras, como sentar e ler os livrinhos dela. Não é levar o pequeno em um cantinho da leitura e deixá-lo lá enquanto faz outras coisas, é estar com ele.
Sempre que possível, o momento de leitura deve ser compartilhado. Além dos materiais didáticos, atualmente as editoras de ótimos livros infantis investem em publicações recreativas, coloridas e informativas, recheadas de interatividade, com belas ilustrações e muitos detalhes do nosso cotidiano. Mas vale lembrar que bom senso é a palavra certa, ou seja, não é recomendável deixar a criança com pouco tempo livre para seu lazer, pois isso também pode prejudicar o desempenho escolar.
O pequeno não deve ter muitas atividades extras, que preencham todo o seu dia. Ele tem que ter o tempo para brincar, descansar ou assistir a um desenho. Ele pode até adorar a leitura, mas também precisa ter uma rotina com outras atividades para participar. Portanto, é necessário regrar o tempo livre entre os livros, os momentos de estudar e de escolher com o que ele vai brincar e o que vai fazer. Afinal, o lúdico faz parte da infância.
Por  Gislene Naxara, no Estadão/Livros e Pessoas

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Teste detecta Alzheimer sete anos antes dos primeiros sintomas

Estamos falando de um teste de memória simples - que consegue reconhecer a doença antes de ela causar estragos irreversíveis. 

 

 (Bluehousestudio/iStock)

Um time de cientistas da University College London desenvolveu um teste para detectar o Mal de Alzheimer sete antes de os primeiros sintomas aparecerem.
Alzheimer é a causa mais comum de demência, responsável por 70% dos casos. A doença não tem cura e a maioria dos medicamentos para conter a diminuição da capacidade cognitiva dos pacientes não surte efeito – 99% dos remédios testados nos Estados Unidos entre 2002 e 2012 falharam, de acordo com a Clínica Cleveland.
Apesar de a única maneira de controlar o avanço da doença seja por meio do diagnóstico precoce, a grande maioria dos pacientes descobre que tem Alzheimer quando os sintomas já estão agravados e alteraram estruturas do cérebro, o que dificulta os tratamentos para barrar seu avanço. O novo estudo, publicado no periódico científico The Lancet Neurology, mostrou que um simples teste de memória consegue detectar os primeiros indícios de demência, mesmo que outros sinais de Alzheimer ainda não tenham se manifestado.
Segundo o novo método proposto pelos pesquisadores, é necessário ficar atento à capacidade de guardar informações depois de uma semana para detectar as primeiras mudanças cognitivas dos possíveis pacientes.
Para chegar a essa conclusão, eles pediram para que 35 pessoas memorizassem uma lista de palavras, detalhes de um diagrama e de uma história. Meia hora depois, os participantes precisaram contar as informações que lembravam. Na semana seguinte, os cientistas perguntaram o que os mesmos voluntários lembravam do teste de sete dias antes.
O detalhe é que 21 integrantes do grupo carregavam uma mutação genética que os tornava mais vulneráveis a desenvolver Alzheimer a partir dos 40 anos. Apesar de saudáveis, os pesquisadores acreditam que a maioria deles poderia apresentar algum sintoma de dano cognitivo dentro de sete anos. Os outros 14 voluntários participaram do experimento como um grupo de controle para comparar com os que tinham mais chances de acabar tendo a doença.
Os autores do estudo perceberam que os 21 “marcados geneticamente” conseguiram responder o teste de memória depois de meia hora, mas passado uma semana não lembravam mais das informações. No grupo dos 14, o desempenho não mudou tanto se comparado ao teste inicial de 30 minutos. Os pesquisadores acreditam que o tipo de teste utilizado no experimento pode ser a primeira forma de descobrir as mudanças cognitivas que desencadeiam o Alzheimer. Além disso, também pode ajudar a identificar a doença com antecedência e a monitorar se o tratamento para controlar a demência está tendo resultados.
 Por Pâmela Carbonari/Superinteressante


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Os atrativos e as polêmicas da educação domiciliar, que virou caso de Justiça no Brasil

 Educação domiciliar
As três crianças acordam às 7h, tomam café da manhã e preparam seu material escolar. Mas, em vez de irem para escola, sentam-se à mesa da sala. Enquanto um estuda português, o outro pode estar fazendo lições de matemática, sob a supervisão da mãe ou do pai caso as lições sejam difíceis. Fazem orações e, eventualmente, todos se reúnem para assistir a um documentário ou ir ao museu. À tarde, frequentam aulas de balé, violão ou esportes.
A família, de São Carlos do Paraná (PR), pratica a educação domiciliar plenamente há um ano. Assimcomo em outras estimadas milhares de famílias brasileiras, a mudança ocorreu quando os pais acharam que os filhos não se adaptavam bem à escola tradicional.
"O mais velho não conseguia aprender matemática e chegava em casa chorando", conta à BBC Brasil a pedagoga Iliani da Silva Vieira, de 37 anos, mãe de três filhos em idade escolar - de 15, 13 e seis anos - e de mais duas crianças, de 3 e 1 ano. "Minha filha do meio também reclamava de dores de cabeça por causa do barulho da escola. Tinha dificuldade em se concentrar."

Iliani e o marido decidiram educar as crianças em casa em tempo integral depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso acatar, em dezembro de 2016, um recurso extraordinário sobre o tema e determinar que fossem suspensos todos os processos judiciais relacionados à educação domiciliar até que a corte tome uma decisão final a respeito, algo que ainda não tem prazo para acontecer.
Na visão de Iliani e de outros pais, a decisão de Barroso deu às famílias segurança, mesmo que temporariamente, para aderir ao homeschooling.
Apesar disso, Iliani foi surpreendida, nas últimas semanas, com uma denúncia do Ministério Público local e uma decisão da Justiça do Paraná obrigando-a a rematricular os filhos na escola, sob pena de perder a guarda deles. A família recorre e contesta a medida judicial, argumentando que ela fere a suspensão determinada pelo Supremo.

Educação domiciliar
Esse modelo vive, segundo especialistas, um grande "limbo" no Brasil: não há leis específicas nem proibindo nem regulando a educação domiciliar.
Na visão do Ministério da Educação e de diversos juízes, porém, deixar de matricular crianças na escola fere o Estatuto da Criança e Adolescente, a Lei de Diretrizes e Bases e a própria Constituição, configurando abandono intelectual. Além disso, críticos afirmam que, sem frequentar um colégio, as crianças são privadas da diversidade - e, sobretudo, da tutela do Estado.

Já para pais que praticam o homeschooling, o modelo aguça o interesse das crianças e livra-as tanto das distrações quanto das falhas do sistema educacional brasileiro.
"Em casa, é mais fácil eles quererem aprender", diz Iliani sobre os três filhos mais velhos. "Sem a pressão causada pelos professores que rotulam as crianças, o aprendizado flui. Ajudamos as crianças com a leitura, algo que a escola não faz de uma forma ampla. Os três estão mais curiosos e esforçados. Até detalhes, como a letra, melhoraram."

Críticas à escolarização

A Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned) calcula haver no Brasil entre 5 mil a 6 mil famílias educando os filhos em casa.
"Essas famílias têm em comum uma crítica severa à escola e a escolarização", explica à BBC Brasil Maria Celi Chaves Vasconcelos, professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autora de tese de doutorado sobre o tema.

"Isso pode ter muitas motivações, por exemplo religiosas, de a escola ensinar diferente da fé que a família professa; econômicas, de pagar-se impostos sem ter educação (pública) de qualidade; de dificuldade da escola em integrar a criança com deficiência ou pela dificuldade de adaptação da criança ao processo escolar", explica.
"Geralmente são pais preocupados com a educação dos filhos e que fazem disso um projeto de vida. Abrem mão de empregos melhores para ficar pelo menos um turno com os filhos em casa e assumir o controle global do processo de educação deles", defende Ricardo Iêne Dias, presidente da Aned, que educou os dois filhos em casa depois de eles sofrerem bullying na escola onde estudavam, na região metropolitana de Belo Horizonte.

'Ensinar a aprender'

Dias explica que o modelo não exige que o pai e a mãe dominem todo o conteúdo escolar, nem que sigam a estrutura de disciplinas e conteúdo tradicionais: "Eles passam a ser mediadores - não precisam saber tudo, mas sim saber ensinar seu filho a aprender e a se tornar um autodidata. As crianças também fazem cursos esportivos, de idiomas e Kumon, por exemplo".
Muitos pais contam com a ajuda de telecursos e da internet, mas também aproveitam momentos do cotidiano familiar - assar um bolo ou visitar um parque, por exemplo - para ensinar conceitos.
Dias afirma que o mais importante é estimular as crianças a interpretar textos e desenvolver raciocínio lógico para que ganhem autonomia. E que a carga horária reduzida é compensada pela ausência das interrupções ocorridas nas escolas.
Educação domiciliar
"Os professores costumam passar muito tempo tentando acalmar a turma e não conseguem dar atenção individualizada. Em casa, as distrações são menores e não precisamos interromper a aula de matemática (porque deu o horário). Se está indo bem, continuamos."
A principal referência são os Estados Unidos, onde a prática é reconhecida e também cresce: há estimativas de que cerca de 1,7 milhão de crianças sejam educadas em casa por lá.
A regulação depende de cada Estado: alguns exigem que as famílias se registrem no distrito escolar e especifiquem o que vai ser ensinado; outros não. E também lá isso é alvo de debate, o qual cresceu em janeiro quando veio à luz a história do casal Turpin, acusado de ter mantido os 13 filhos em cativeiro sob condições degradantes, durante anos.
Os Turpin haviam feito um registro de educação domiciliar no Departamento de Educação no Estado da Califórnia, onde não há nenhuma supervisão estadual para o homeschooling. Essa falta de controle, para os críticos, teria dificultado a descoberta do caso.
"O ensino domiciliar não dá liberdade às crianças, mas sim aos pais", disse à emissora CNN a porta-voz da Coalizão para a Educação Domiciliar Responsável, Rachel Coleman, cobrando regulamentação mais rígida.

Normas?

Dar salvaguardas às crianças é justamente o que torna importante uma regulamentação - seja favorável ou contrária - para a educação domiciliar aqui no Brasil, defende Vasconcelos, da Uerj.
"Não dá para trabalhar caso a caso, dependendo de cada comarca ou cada juiz. Há uma lacuna: o homeschooling, como está hoje, é um risco para as famílias e sociedade como um todo. Tem que ter uma relação instituída com o Estado. Não pode se limitar a tirar as crianças da escola. No momento, não conseguimos nem sequer ter um censo dessas crianças. O Estado não permite que uma mãe faça com seu filho o que ela quer. É preciso normatizar o processo", argumenta.
Luís Roberto Barroso, ministro do STF
Tramitam na Câmara dos Deputados dois projetos de regulamentação do ensino domiciliar, de autoria de Lincoln Portela (PRB-MG) e Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), que preveem que as crianças educadas em casa sejam submetidas a avaliações periódicas, tal qual os alunos matriculados em escolas. Os projetos estão em debate na Comissão de Educação da Casa.
No que diz respeito a avaliações do aprendizado, crianças educadas em casa que queiram obter certificados de ensino fundamental e médio para se matricular na universidade prestam o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), explica Dias, da Aned. Ele diz que as famílias estão abertas à regulamentação, mas é cético quanto à capacidade de supervisão do Estado.
"Não acho que o governo tenha competência técnica e logística para isso. O que ele vai avaliar?", questiona.
Um exemplo de regulamentação vem de Portugal, país que permite a educação domiciliar, mas exige que as crianças sejam matriculadas no sistema de ensino, visitadas em casa por assistentes sociais e submetidas a avaliações constantes. "Se não passarem nas provas, elas precisam voltar para a escola", explica Vasconcelos, que estudou o modelo português.
Mas as críticas ao homeschooling vão além da questão regulatória. Muitos argumentam que a educação em casa cobra um preço em socialização e em acesso das crianças a pensamentos diferentes dos da família.
"A escola tem o papel de abrir para o mundo, e uma de suas características deve ser a diversidade", diz Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
Educação domiciliar 

"A família tem valores privados. Se a família defende, por exemplo, o preconceito e o sexismo, é preciso que haja um lugar onde isso seja pensado de outra maneira. Pode ser que a escola esteja despreparada (para esse papel), mas há cada vez mais projetos de gestão democrática e combate ao bullying, por exemplo. É justamente na troca de experiências que as crianças aprendem. Mais do que trancar as crianças, vamos juntos melhorar a escola e exigir mais dela", opina Vinha.
Mas para Dias, da Aned, a questão é que, na prática, existe "uma escola ideal e uma escola real".
"Meu filho, quando tinha sete anos, apanhava na escola por ser baiano", conta. "Essa socialização eu não quero. Está muito longe de haver o exercício de tolerância nas escolas. Eu ouvi do MEC que a escola é o espaço do aprendizado e do exercício da diferença. Mas se fosse isso mesmo, talvez meu filho ainda estivesse na escola."
Ele defende ainda que crianças educadas em casa se destacam em trabalho em equipe e empreendedorismo porque "conseguem pensar fora da caixa por não terem passado pelo padrão massificado de aprendizado. Elas aprendem a interpretar textos e participam mais da vida domiciliar, onde a educação acontece o tempo todo".
Iliani, a mãe de cinco crianças em São Pedro do Paraná, acredita que "a primeira socialização da criança deve ser junto à família. É a partir daí que ela vai conseguir socializar com as pessoas de fora. O que vemos hoje na escola é criança se batendo e agredindo professor ou então só no tablet e no celular. Que convívio é esse?".
Para Vasconcelos, o mais urgente é que as famílias adeptas dessa prática sejam sujeitas a alguma relação formal com o Estado.
"Não posso concordar que as crianças sejam retiradas da escola na infância ou na adolescência e fiquem em homeschooling sem nenhuma satisfação ao Estado do que está sendo trabalhado", argumenta. "Não quer dizer que a fiscalização vai alterar (eventuais problemas). Mas pelo menos institucionaliza uma modalidade e (cria formas) de as crianças demonstrarem o que estão aprendendo."
Direito de imagem Getty Images
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A coexistência da simplicidade com a complexidade

A exposição era sobre arquitetura, mas me revelou um insight sobre a sustentabilidade nos dias atuais

A coexistência da simplicidade com a complexidade

 

Em certo momento da exposição Sou Fujimoto – Futuros do futuro, na Japan House, em São Paulo, na qual o renomado arquiteto japonês da atualidade apresenta os conceitos de seu trabalho, me deparei com a frase: “A coexistência da simplicidade com a complexidade”.
Não estava escrita em letras garrafais, aparecia em meio a uma série de outras definições do entendimento desse talentoso profissional sobre a arquitetura, mas traduziu algo que eu ainda não conseguia expressar em palavras: o espírito do tempo em que vivemos.
Vivemos uma realidade que nos faz transitar entre essas duas dimensões a todo momento. No mundo dos negócios, queremos que os executivos compreendam a maior complexidade dos efeitos de suas decisões e abandonem a orientação simplista voltada apenas para os ganhos financeiros.

Dentro dessas mesmas empresas, não raro defendemos a simplificação de processos, eliminação de hierarquias e, com isso, a liberação da capacidade criativa das pessoas para que testem soluções a partir de protótipos mais ágeis. Ou seja, enfrentar problemas complexos com uma abordagem mais simples.
Em nossos debates cotidianos, nos deparamos com a propagação de linhas de pensamentos simplistas, seja na política, na economia ou nos usos e costumes, que alimentam a polarização (contra ou a favor, certo ou errado, bom ou mau) e conclusões provocadas por um raciocínio binário. Chega-se, assim, a decisões que não consideram a complexidade do mundo atual, gerando isolamento, exclusão, conflitos, entre outros efeitos.
Em contrapartida, muitos de nós têm buscado a simplicidade como estilo de vida. Mais e mais pessoas avaliam o que é realmente relevante para ser feliz, abandonam o que consideram imposições de uma sociedade voltada ao consumo, que idealiza o sucesso e gera falsas necessidades.

Nesse vai e vêm entre simplicidade e complexidade, há quem foque seu trabalho na ampliação da consciência dos profissionais para a complexidade do mundo atual e há também os que propõem um novo olhar sobre a simplicidade aplicada às diversas dimensões de nossa vida. Claro que não há certo ou errado, são dois lados da mesma moeda, dependendo apenas do contexto em que são empregados.
Isso me remete à conexão com sustentabilidade. Nos últimos anos, sintetizamos na Report Sustentabilidade, empresa que ajudei a criar, a nossa crença sobre o que era, afinal, essa tal sustentabilidade. E adotamos a seguinte definição: “Sustentabilidade é alinhar os negócios ao espírito do tempo”.
Sou Fujimoto é reconhecido por sua inspiração na natureza, sua atenção em criar formas orgânicas a partir da combinação da solidez e do vazio, do translúcido e do opaco, enfim, de elementos diversos. Não por acaso, ele me fez perceber que sustentabilidade é, portanto, trabalhar pela coexistência da simplicidade com a complexidade neste mundo em constante transição. 
Por Álvaro Almeida/Isto é Dinheiro


Estereotipias no Transtorno do Espectro do Autismo

Definidas como movimentos, comportamentos e/ou atividades desencadeadas de maneira involuntária e repetitiva, as estereotipias são consideradas comuns no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Se você tem convívio com alguém no espectro, possivelmente tenha presenciado algum comportamento que caracteriza a estereotipia. Movimentos realizados sem um motivo aparente, tais como o girar e bater de mãos, acenar, balançar cabeça, tronco e membros, abrir e fechar de boca; saltar, correr, pular, olhar objetos fixamente, cruzar pernas e bater pés, entre outros.
As denominadas estereotipias podem envolver um ou todos os sentidos. Geralmente incluem ações que duram segundos, minutos, às vezes horas.
Cada criança com autismo tem o seu próprio repertório de estereotipias, que podem evoluir com o tempo e, nem sempre, são consideradas nocivas ao autista. Podem estar ligadas a momentos de estresse, ansiedade, fadiga, convívio social e outros estímulos ambientais. Por isso, esses comportamentos podem ser considerados “auto-estimuladores”, pois costumam proporcionar ao autista uma excitação sensorial de forma a acalmar ou até mesmo gerar uma sensação de satisfação interna. A estereotipia pode ajudar a aliviar a tensão de um ambiente excessivamente estimulante, pois ajuda a desfocar dos estímulos externos e se concentrar em si.
Quando os episódios de estereotipia passam a interferir nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, afetando a capacidade de comunicação e socialização, uma intervenção terapêutica pode ser recomendada. Identificar quando as repetições se tornam barreiras à realização das atividades diárias é o primeiro passo para melhorar a condição da criança, reduzindo ou eliminando os comportamentos estereotipados e reabilitando-a por meio da introdução de tratamentos, que incluem desde a Análise do comportamento aplicada (ABA) até medicamentos.

Estereotipia x Estereótipo: compreendendo as diferenças
É muito comum que os termos “estereotipia” e “estereótipo”, quando associados ao universo do autismo, se confundam.
Como observado, estereotipia é uma comorbidade associada ao TEA. Já quando empregamos o termo “estereótipo”, refere-se a estigmatizar a pessoa com TEA.
O desconhecimento da população em geral sobre o espectro, bem como a maneira que ele é retratado na ficção, como em novelas e alguns filmes, pode contribuir ainda mais para uma representação equivocada do universo do TEA, rotulando o autista e restringindo sua capacidade individual.
Cada pessoa no espectro, seja ela criança ou adulto, tem características próprias e potenciais igualmente diferenciados que, quando desenvolvidos, permitem ao autista alcançar independência e autonomia em suas atividades diárias, bem como conviver em sociedade.
Conhecer para compreender, acolher e desenvolver. Em se tratando do TEA, o conhecimento é uma das mais potentes armas que há para cuidar de quem está no espectro, reduzindo assim os desafios característicos do distúrbio e possibilitando ao autista uma melhor condição de vida, sem rótulos, sem estereótipos que possam limitar seu potencial enquanto ser humano.
 Fonte: NeuroConecta

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Campus Party debate a educação do futuro e oferece aulas gratuitas de robótica

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O evento terá 24 horas de atividades no Pavilhão de Exposições do Anhembi, até o próximo domingo

 foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

 A 11ª edição da Campus Party – evento de tecnologia, inovação e empreendedorismo do país que começou nesta terça-feira, na capital paulista – tem como um dos temas de destaque a evolução da educação. No espaço Educação do Futuro, alunos e educadores podem participar, gratuitamente, de oficinas de robótica e linguagem de programação, promovidas pelo Centro Paula Souza e MIT Media Lab (do Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

O setor Educação e Futuro é dedicado a crianças de 4 a 17 anos. “A gente está investindo muito, através da parceria com MIT. A ideia é que possa dar atividades para o jovem que ainda não tem idade para estar na arena. Ele verá robótica e fazedores, que vão formar e aperfeiçoar os educadores”, disse Tonico Novaes, diretor geral da Campus Party.

Francesco Farruggia, presidente do Instituto Campus Party, disse que realizou uma pesquisa com 7 mil estudantes de escolas públicas da periferia de São Paulo convidadas a conhecer a Campus Party. O levantamento revelou que 83% dos entrevistados gostaram do passeio, mas disseram que este não era "um mundo para eles”. “A primeira coisa que precisamos convencê-los é de que eles podem”, disse Farruggia.
 
Além da educação, a Campus Party também tem um espaço para impulsionar jovens empresas. Para este ano, foram selecionadas 120 startups, em fases desde embrionária até a mais avançada.

Para a edição paulista deste ano, são esperados  mais de 100 mil visitantes e 12 mil campuseiros. Este ano o evento também será feito em abril em Natal, maio na Bahia, junho em Brasília e setembro em Belo Horizonte.

O evento terá 24 horas de atividades no Pavilhão de Exposições do Anhembi, até o próximo domingo (4). O espaço tem 77,7 mil metros quadrados, dividido em três pavilhões, e conta com nove palcos. Até sábado (3), a área gratuita da Campus Party estará aberta ao público das 10h às 20h.
 Por em.com.br/Agência Brasil

Neto de Gandhi conta em livro como usou lições do avô para repensar a raiva




Líder indiano foi assassinado há exatos 70 anos
Publicado em O Globo
RIO — Setenta anos depois, o indiano Arun Gandhi ainda se lembra com muita nitidez daquele 30 de janeiro de 1948. Ele voltava a pé do colégio, que ficava a mais de um quilômetro de sua casa, em um vilarejo na África do Sul. Um conhecido apareceu e pediu que ele apressasse o passo. Quando chegou e viu a sua mãe chorando, percebeu que algo sério havia acontecido. Seu avô, Mahatma Gandhi, fora assassinado a tiros na Índia.
Arun foi tomado pela raiva. Ao longo dos anos, porém, usou as lições pacifistas ensinadas pelo avô para canalizar o sofrimento em algo positivo. Estes ensinamentos estão em “A virtude da raiva” (Sextante), que acaba de sair no Brasil. Hoje com 83 anos, o ativista político vai a Campinas (SP) participar do “Fórum Campinas Pela Paz”, que acontece nos dias 23 e 24 de fevereiro.
— Quando soube do assassinato, fiquei em choque, não entendia como podiam ter matado alguém tão gentil e amável — lembra Arun, em entrevista por telefone. — Disse à minha família que iria me vingar de quem fez isso. Na hora, meus pais me lembraram que o meu avô não aprovaria esse tipo de comportamento, e que ele gostaria que eu dedicasse minha vida a mostrar que não há mais lugar para esse tipo de violência. Foi o início da minha trajetória no ensino da não violência.
UMA ESPÉCIE DE ELETRICIDADE
“A virtude da raiva” traz dez ensinamentos que Arun recebeu de Gandhi. Nascido na África do Sul, em 1934, o ativista passou os primeiros anos da vida sofrendo com os efeitos do apartheid: era atacado pelas crianças brancas por não ser branco o suficiente e pelas crianças negras por não ser negro o suficiente. Ressentido, só compreendeu melhor o mundo depois que sua família se mudou para a Índia, e ele conheceu o seu avô. Arun tinha 12 anos e teve contato direto com Gandhi até os 14, quando voltou para o país natal.
Mahatma Gandhi com o neto, Aron – Divulgação / Agência O GLOBO
Presidente da Gandhi Worldwide Education, e jornalista com textos publicados no “Washington Post”, o quinto neto de Mahatma dedica sua vida a divulgar o sentido de justiça do avô. Um dos caminhos para isso, defende no livro, é compreender o poder estimulante da raiva, que pode ser uma ferramenta poderosa para lutar contra as injustiças, desde que se deixe de lado os seus aspectos tóxicos.
— Eu tinha muita raiva pela discriminação que sofri no apartheid e mostrava isso no meu dia a dia — conta o ativista. — Mas, ao chegar à Índia, meu avô me explicou o que era essa raiva e como ela poderia ser usada.
O velho Gandhi usava uma metáfora para ilustrar a questão. A raiva, dizia ele, é como a eletricidade: dependendo de como a usamos, pode resultar tanto numa centelha de energia quanto num curto-circuito. Espelhando-se no jeito calmo e controlado do avô, Arun percebeu que não adiantava, por exemplo, revidar as agressões que recebia.
— A raiva que pode ser positiva resolve problemas — explica Arun. — Mas ela é ruim para a Humanidade quando abusamos dela, nos tornamos violentos e agredimos uns aos outros tentando achar uma solução. É preciso usá-la de forma inteligente, sem exagerar na dose.
As redes sociais não escapam da análise de Arun. Segundo ele, as novas mídias podem ter contribuído para expandir raiva e violência.
— Na maior parte das vezes, as redes sociais são usadas de forma errada, para coisas sem sentido — avalia. — Também criam um déficit de atenção. Sinto que, quando faço posts longos, ninguém os lê. Apenas dão like e seguem em frente.
E Gandhi, teria hoje uma conta no Twitter ou no Facebook?
— Acho que ele usaria porque a sua ideia era espalhar a sua mensagem para o maior número de pessoas — palpita o ativista. — Em seu tempo, ele usou rádio, telefone, tudo que podia lhe facilitar a espalhar a sua mensagem.
Por Cristina Danuta/ Livros e Pessoas