Forçar uma criança a ler pode atrapalhar seu desenvolvimento natural.
 Mas infelizmente isso acontece com frequência, pois algumas famílias 
costumam antecipar essa situação. Um aluno na fase de Educação Infantil 
ou de séries iniciais do Fundamental está em processo de alfabetização, 
que acontece desde seu ingresso na escola. Esse desenvolvimento é muito 
espontâneo. O pequeno tem uma motivação, que é interna, e tem todo 
estímulo externo, trazido pela escola e família. Porém, temos que 
respeitar o tempo de cada um, pois a aprendizagem é individual. Não 
podemos pular alguma etapa desse desenvolvimento. Nesse sentido, a 
escola é que sabe dessa caminhada e entende o processo. Por não ser 
especialista na área, muitas vezes a família pode não compreender e 
tomar um direcionamento errado. Portanto, a ajuda por parte dos pais é 
mostrar para a criança a importância da leitura e qual a sua função 
social, mas sem obrigá-la a ler.
Pai e mãe tornam-se bons exemplos sendo leitores. O segredo é motivar
 e não exigir. De que forma? Ler para seus filhos, levá-los à 
biblioteca, à livraria e ter um ambiente letrado em casa. Esses são 
fatos que ajudam muito mais que atitudes formais de estudo. É a escola 
que vai orientar a família. Com mais de 30 anos na área de educação e 
também atuando como coordenadora pedagógica da Educação Infantil no 
Colégio Salesiano Santa Teresinha, situado na Zona Norte de São Paulo, 
eu percebi que se houver qualquer necessidade de um acompanhamento 
diferente, é a instituição que vai dar a orientação. Por isso, os pais 
devem tomar cuidado, porque às vezes uma expectativa grande acaba 
atrapalhando a criança, que passa por várias fases que precisam ser 
respeitadas. Se a família as antecipa, o filho pode se prejudicar, pois 
fica inseguro e frustrado ao não conseguir corresponder aos anseios.
A unidade escolar tem autoridade nesse processo, que tem de acontecer
 de maneira espontânea, com o pequeno estudante construindo seu saber de
 forma participativa, resultando no sucesso e desenvolvimento adequados.
 Mas, afinal, qual é a melhor forma de incentivar a leitura? Como 
inseri-la no dia a dia? É importante que seja um hábito diário e, sempre
 que possível, motivador, envolvente e prazeroso. Em casa, a família 
deve cuidar para que esses momentos não sejam didáticos, pois competem à
 escola.
A família não pode trazer para casa atitudes ou atividades formais 
escolares, mas ela pode incentivar, valorizar e motivar. A simples 
atitude de ir até uma banca de jornal com o filho(a) comprar uma revista
 ou um jornal – algo que está ficando raro por conta da tecnologia – e 
deixar a criança pegar uma história em quadrinhos ou outro tipo de 
publicação infantil, por exemplo, é uma forma muito boa de estimular, 
pois a insere nessa rotina. Deixá-la folhear revistas, gibis, livros e 
outros veículos de acordo com a faixa etária. Ler e trazer toda aquela 
magia da história ajuda muito, ou seja, fazer atividades lúdicas e 
motivadoras, como sentar e ler os livrinhos dela. Não é levar o pequeno 
em um cantinho da leitura e deixá-lo lá enquanto faz outras coisas, é 
estar com ele.
Sempre que possível, o momento de leitura deve ser compartilhado. 
Além dos materiais didáticos, atualmente as editoras de ótimos livros 
infantis investem em publicações recreativas, coloridas e informativas, 
recheadas de interatividade, com belas ilustrações e muitos detalhes do 
nosso cotidiano. Mas vale lembrar que bom senso é a palavra certa, ou 
seja, não é recomendável deixar a criança com pouco tempo livre para seu
 lazer, pois isso também pode prejudicar o desempenho escolar.
O pequeno não deve ter muitas atividades extras, que preencham todo o
 seu dia. Ele tem que ter o tempo para brincar, descansar ou assistir a 
um desenho. Ele pode até adorar a leitura, mas também precisa ter uma 
rotina com outras atividades para participar. Portanto, é necessário 
regrar o tempo livre entre os livros, os momentos de estudar e de 
escolher com o que ele vai brincar e o que vai fazer. Afinal, o lúdico 
faz parte da infância.
Por  Gislene Naxara, no Estadão/Livros e Pessoas
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