terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Nasa usava mulheres como “computadores humanos” – e as separava por cor

A história inspirou o filme "Estrelas Além do Tempo" que chega aos cinemas brasileiros em fevereiro

Parceiro | Conheça as cientistas negras por trás de “Estrelas Além do Tempo”

 

O longa-metragem Estrelas Além do Tempo foi lançado nesta semana nos Estados Unidos e chega ao Brasil em 2 de fevereiro. Adaptação do livro homônimo, o filme conta a história de três mulheres afro-americanas que fizeram parte da equipe de “computadores humanos” da Nasa.
O grupo, composto em sua maioria de mulheres, calculava manualmente equações necessárias para que as viagens espaciais acontecessem. Juntas eram um grupo de 194 cientistas que trabalhavam para a agência. O grupo foi dividido em duas equipes: uma com matemáticas negras e outra com cientistas brancas. Ambas faziam o mesmo trabalho, mas as mulheres afrodescendentes recebiam salários menores e precisavam usar ambientes da Nasa reservados para negros.
Estrelas Além do Tempo retrata como as cientistas negras Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, venceram preconceitos de raça e gênero para que astronautas como Neil Armstrong, Alan Shepard e John Glenn fizessem suas viagens espaciais com segurança. Saiba mais sobre o trabalho de cada uma dessas cientistas abaixo.

Katherine Johnson

katherine johnson
(NASA | Public Domain)
Johnson pode ser considerada uma criança prodígio. Ela terminou o colégio aos 14 anos e se formou em matemática e língua francesa na West Virginia State University aos 18 anos. Um ano depois de sua graduação, Johnson foi a primeira mulher negra a ser selecionada para integrar um curso de pós-graduação na West Virginia State University.
Entre os anos de 1953 e 1958, Johnson trabalhou como “computador humano” para o Comitê Consultivo Nacional de Aeronáutica (Naca), órgão que viria a ser a Nasa.
O filme foca na época em que Johnson fez os cálculos para que o astronauta John Glenn se tornasse o primeiro norte-americano a orbitar a Terra. Em 1962, a Nasa começou a usar computadores eletrônicos pela primeira vez. No entanto, Glenn se recusou a entrar no foguete antes que Johnson verificasse a rota criada pelo computador.
Outra contribuição importante de Johnson foi o cálculo da trajetória do voo do Apolo 11, o foguete que levou os homens à Lua pela primeira vez, em 1969. Além de tudo isso, a cientista é coautora de 26 artigos científicos e recebeu recentemente das mãos do presidente dos Estados Unidos Barack Obama uma das maiores honrarias do país: a medalha presidencial da liberdade.

Dorothy Vaughan

dorothy vaughan
(NASA | Courtesy of Beverly Golemba)
Vaughan se formou em matemática aos 19 anos pela Universidade de Wilberforce. Em 1943, após anos trabalhando como professora de matemática, ela começou a trabalhar no laboratório de aeronáutica Langley Memorial na Naca. Na época, as Leis de Jim Crow estavam em voga e, por isso, Vaughan fazia parte do West Area Computers, um grupo composto apenas de mulheres afro-americanas que trabalhava como computadores humanos.
Diferentemente de Johnson, Vaughan não continuou no ramo da matemática com a chegada dos computadores eletrônicos. Ela percebeu que todas as mulheres do West Area Computers seriam as primeiras a serem demitidas com o uso de máquinas da IBM. Assim, ela decidiu aprender a programar e ensinou a outras mulheres a tarefa.
Em 1949, Vaughan tornou-se chefe do West Area Computers. Ela foi a primeira supervisora negra da história da Naca. A cientista continuou no laboratório até 1958, quando a Naca passou a ser chamada Nasa. Em seguida, foi designada para a Divisão de Análise e Computação da Agência Espacial.

Mary Jackson

mary jackson
(NASA Langley Research Center)
Jackson se formou no Hampton Institute em 1942 com um diploma duplo em Matemática e Ciências Físicas. Foi apenas em 1951 que a cientista começou a trabalhar com o grupo segregado West Area Computers. Após dois anos trabalhando lado a lado com Dorothy Vaughan, Jackson trabalhou para o engenheiro Kazimierz Czarnecki no Túnel de Pressão Supersônico, um túnel de vento de 60 mil cavalos que era capaz de explodir quase qualquer coisa com ventos próximos ao dobro da velocidade do som.
Para que pudesse realizar experimentos dentro do túnel, Jackson precisou entrar em um treinamento que a promoveria de matemática para engenheira. No entanto, as aulas eram realizadas na segregada Escola Secundária de Hampton e ela precisou de uma permissão especial para se juntar aos alunos brancos. Em 1958, Jackson se tornou a primeira engenheira mulher e negra da Nasa.
A cientista foi autora e coautora de uma dúzia de relatórios de pesquisa. A maioria desses estudos são focados no comportamento da camada limite de ar em torno de aviões.

Por Marina Demartini, de Exame.com/republicado por Superinteressante


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