Movimentos que propõem cada vez
mais a exposição de todos os processos de fabricação de uma roupa andam
colocando a moda em uma berlinda. Um dos desafios dos tempos atuais é tornar o
consumo cada vez mais sustentável por meio de alternativas que visam à diminuição
do impacto ambiental.
E uma dessas iniciativas vem por
meio da garrafa PET, que atualmente vive um de seus melhores momentos no
universo da moda. É que por meio de um processo de reciclagem, o plástico da
garrafa é transformado em fibras que, por sua vez, resultam em um tecido forte,
porém macio. Embora ainda soe como uma novidade, há marcas no mercado, como a
My Basic, responsáveis por tornar realidade a reciclagem do PET como roupa já
há algum tempo. Uma camiseta básica vendida no e-commerce da grife, por
exemplo, equivale a aproximadamente duas garrafas retiradas do meio ambiente.
Buscando alternativas mais
ecológicas e reverberando a preocupação com o futuro, a nova safra de
estilistas também vem se empenhando para popularizar este tecido e, de alguma
forma, torná-lo mais viável.
Antônio Fernando Santos,
coordenador do curso de Design de Moda da Fumec, entende que os alunos
recém-formados estão, sim, mais empenhados na questão da sustentabilidade e
mais conscientes da importância da reciclagem. “O tecido feito a partir da
garrafa PET se parece muito com a viscose, tanto no caimento quanto no toque.
Em geral, ele é combinado com algodão ou linho, que conferem um toque ainda
mais confortável e diminui ainda mais o custo”, explica.
Mais vantagens
O estilista Célio Dias, nome por
trás da marca mineira LED, conheceu o tecido PET há quase um ano e investe na
matéria-prima para produzir parte de suas peças a cada coleção lançada. “Uma
das vantagens desse tecido é a facilidade para estamparia, porque ele ‘aceita’
mais facilmente técnicas diversas, como a sublimação. O custo, por conta da tecnologia
da reciclagem, é um pouco mais alto, mas o fato de trabalhar com tecidos
sustentáveis é gratificante e menos danoso ao meio ambiente”, defende.
Além da responsabilidade
socioambiental, da facilidade para estamparia e da durabilidade, Célio também
aponta mais um benefício no uso dessa matéria-prima: o conforto. “Ele funciona
como o poliéster, que é nada mais, nada menos que plástico que é poluente. Mas
o tecido que uso é combinado com outras fibras naturais, o que favorece o
caimento e não esquenta tanto quanto um sintético”, conta.
Ecologicamente bonito
Bruna Miranda, idealizadora da
Review Slow Living – plataforma sustentável que faz um mapeamento de marcas que
trabalham com o consumo consciente –, explica que a indústria da moda
sustentável ainda carrega o estigma de estar associada a produtos sem estética.
Se antes, na moda, termos como “ecológico” e “sustentável” eram sinônimos de
peças com nenhum design, estilistas estão provando, cada vez mais, que é
possível trabalhar as tendências com criatividade e bom gosto.
“Algum tempo atrás, uma peça ou
era sustentável, ou era bonita. Hoje, não é só assim. As marcas estão
investindo em design e informação de moda nesse tipo de tecido e
transformando-o em peças desejáveis e vendáveis dentro de uma estética mais
atemporal e minimalista, acessível a todos os gostos”, aponta.
Quem compartilha dessa opinião é
a estilista Ana Sudano, que trabalha há três anos com maneiras socioambientais
e tecidos tecnológicos junto à marca Grama. Para ela, a indústria têxtil caminha
a passos cada vez mais largos em direção à criação de artigos que unam estilo e
alternativas mais limpas.
No entanto, ela ressalta que um
dos empecilhos para a popularização da técnica ainda é a falta de conhecimento
do produto. “Ainda existem consumidores que, ao saber que a roupa foi feita de
um tecido gerado a partir de garrafa plástica reciclada, associam o produto a
lixo. Moda é muito impacto visual. Quando a roupa gera desejo, a mensagem por
trás vem automaticamente”, acredita.
Alternativa mais durável para calçados
Vegetariana já há alguns anos, a
designer mineira Luisa Jordá encontrou nos tecidos desenvolvidos a partir de
embalagens PET recicladas a matéria-prima capaz de substituir o couro animal e
outros produtos utilizados na indústria calçadista para criar peças para sua
marca estúdio NHNH. Segundo ela, o tecido ecológico não só é bem resistente, como
durável e fácil de trabalhar.
“Os fabricantes estão começando a
aprender que existem outros materiais que podem ser bem-explorados sem que
agridam exaustivamente o meio ambiente, como acontece com o couro animal”.
Ainda de acordo com ela, há sim, no mercado, uma demanda significativa por
produtos afins, vinda de pessoas que procuram por produtos que não sejam
fabricados com materiais de origem animal.
“As pessoas adquirem a peça
porque gostam do design, mas a consciência da produção da indústria vem embutida.
É algo que as empresas deveriam adotar, já que a ideologia pode atingir os
clientes, e é uma onda que só vem crescendo”, relata.
Recentemente, a Adidas desenvolveu um tênis de
corrida usando lixo plástico recolhido dos oceanos. A iniciativa é fruto de uma
parceria com a organização ambiental Parley for the Oceans. Cada par usa 11
garrafas plásticas, transformadas em fios, na fabricação de sua parte superior.
Já a sola, o cadarço e a meia embutida são confeccionados com resíduos de
garrafas PET recicladas. Outras marcas de calçados, como a Insecta Shoes,
também acreditam que utilizar garrafas recicladas para fazer peças é uma
maneira correta de eliminar resíduos. Para Bruna Miranda, do Review Slow
Living, a produção sustentável tem um valor maior, e as marcas, de maneira
geral, estão procurando por isso. “Fazer com que as pessoas fiquem interessadas
em usar esse tipo de material e que percebam que é possível alinhá-lo à
estética é uma boa maneira de tornar essas iniciativas mais acessíveis de
maneira geral, e não apenas a um nicho de pessoas que já são comprometidas com
a sustentabilidade”.
Fonte
http://www.otempo.com.br/pampulha/pet-de-hoje-roupa-de-amanh%C3%A3-1.1419902
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