Quando eram crianças, o estudante de engenharia Mateus Foz
Caltabiano, de 19 anos, e sua irmã, Maria, 17, costumavam doar roupas e
brinquedos a pessoas carentes, incentivados pelos pais. Em 2013, tiveram
uma ideia diferente: arrecadar livros com amigos e conhecidos. A ação
foi um sucesso. “Conseguimos 5 000 exemplares, que abarrotaram uma sala
inteira de nossa casa”, conta o garoto.
Para fazer a distribuição, os dois embarcaram, com a família, para o
Maranhão. “Elegemos esse destino porque é o estado com um dos menores
índices de desenvolvimento humano do país”, explica o rapaz. Eles
pagaram a viagem com recursos próprios. Foram 37 dias de expedição,
passando por comunidades quilombolas, aldeias indígenas e regiões
ribeirinhas.
Encantados com a experiência, os irmãos decidiram criar, em 2014, a
lêComigo, organização sem fins lucrativos que fornece livros a bairros
pobres e escolas públicas pelo Brasil. Boa parte das obras é arrecadada
em eventos promovidos pela Organização da Sociedade Civil (OSC).
Em quase três anos de trabalho, foram distribuídos 18 000 títulos
infanto-juvenis em estados como Amazonas e Tocantins. Cada local recebe
um kit com cerca de 170 exemplares. A dupla faz a entrega pessoalmente,
em geral durante as férias escolares, e paga do próprio bolso as
despesas, incluindo transporte e estada. O valor pode chegar a 3 000
reais para cada um, dependendo da cidade escolhida.
“Nossa biblioteca era muito pobre”, conta Sheila Ferraz, 37,
supervisora pedagógica de uma escola de Jacinto, em Minas Gerais.
“Quando os alunos receberam o presente, foi uma festa.” Em São Paulo,
dezenas de instituições estaduais de ensino, em bairros como penha, na
Zona leste, e Capão Redondo, na Zona sul, já foram contempladas.
Agora, os jovens planejam obter patrocinadores para ampliar o número
de pessoas atendidas. “Sempre fui apaixonada pela leitura, e é
gratificante poder dividir isso com quem tem menos recursos”, afirma
Maria. “Essa trajetória me deixou muito mais comprometido com o meu
país”, completa Mateus.
Por Sara Ferrari, na Veja SP/livros e pessoas
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