A exposição era sobre arquitetura, mas me revelou um insight sobre a sustentabilidade nos dias atuais
Em certo momento da exposição Sou Fujimoto – Futuros do futuro,
na Japan House, em São Paulo, na qual o renomado arquiteto japonês da
atualidade apresenta os conceitos de seu trabalho, me deparei com a
frase: “A coexistência da simplicidade com a complexidade”.
Não estava escrita em letras
garrafais, aparecia em meio a uma série de outras definições do
entendimento desse talentoso profissional sobre a arquitetura, mas
traduziu algo que eu ainda não conseguia expressar em palavras: o
espírito do tempo em que vivemos.
Vivemos uma realidade que nos faz
transitar entre essas duas dimensões a todo momento. No mundo dos
negócios, queremos que os executivos compreendam a maior complexidade
dos efeitos de suas decisões e abandonem a orientação simplista voltada
apenas para os ganhos financeiros.
Dentro dessas mesmas empresas, não
raro defendemos a simplificação de processos, eliminação de hierarquias
e, com isso, a liberação da capacidade criativa das pessoas para que
testem soluções a partir de protótipos mais ágeis. Ou seja, enfrentar
problemas complexos com uma abordagem mais simples.
Em nossos debates cotidianos, nos
deparamos com a propagação de linhas de pensamentos simplistas, seja na
política, na economia ou nos usos e costumes, que alimentam a
polarização (contra ou a favor, certo ou errado, bom ou mau) e
conclusões provocadas por um raciocínio binário. Chega-se, assim, a
decisões que não consideram a complexidade do mundo atual, gerando
isolamento, exclusão, conflitos, entre outros efeitos.
Em contrapartida, muitos de nós têm
buscado a simplicidade como estilo de vida. Mais e mais pessoas avaliam o
que é realmente relevante para ser feliz, abandonam o que consideram
imposições de uma sociedade voltada ao consumo, que idealiza o sucesso e
gera falsas necessidades.
Nesse vai e vêm entre simplicidade e
complexidade, há quem foque seu trabalho na ampliação da consciência dos
profissionais para a complexidade do mundo atual e há também os que
propõem um novo olhar sobre a simplicidade aplicada às diversas
dimensões de nossa vida. Claro que não há certo ou errado, são dois
lados da mesma moeda, dependendo apenas do contexto em que são
empregados.
Isso me remete à conexão com
sustentabilidade. Nos últimos anos, sintetizamos na Report
Sustentabilidade, empresa que ajudei a criar, a nossa crença sobre o que
era, afinal, essa tal sustentabilidade. E adotamos a seguinte
definição: “Sustentabilidade é alinhar os negócios ao espírito do
tempo”.
Sou Fujimoto é reconhecido
por sua inspiração na natureza, sua atenção em criar formas orgânicas a
partir da combinação da solidez e do vazio, do translúcido e do opaco,
enfim, de elementos diversos. Não por acaso, ele me fez perceber que
sustentabilidade é, portanto, trabalhar pela coexistência da
simplicidade com a complexidade neste mundo em constante transição.
Por Álvaro Almeida/Isto é Dinheiro
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