terça-feira, 2 de abril de 2019

Autismo: quebra de estigmas é o pilar na prática da educação

No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, profissionais e famílias trazem a necessidade de olhar para o autismo com mais empatia
Vânia Albuquerque, Carlos Almeida Júnior e Carlos Almeida
Vânia Albuquerque, Carlos Almeida Júnior e Carlos AlmeidaFoto: Julya Caminha/Folha de PernambucoLidar com o Transtorno de Espectro Autista (TEA) foi, por muito tempo, carregado de estigmaMagda Bezerra Prado, 45 anos, pedagoga especialista em educação inclusiva, conta a história de progresso de mães que, no início do diagnóstico, não conseguiam reconhecer o seu filho para além do autismo e também revela a importância da disseminação de informações a respeito do TEA. 

De acordo com a pedagoga, “a divulgação sobre o autismo foi cada vez mais ampliada. A gente vê o autismo na mídia, diversas organizações de pais se mobilizando e até mesmo as leis fortificam um olhar diferenciado para o Transtorno de Espectro Autista".

“Hoje a gente escuta muito falar sobre autismos, pois são características pontuais que se manifestam de formas diversas”, Magda aponta. A pedagoga estuda as diferentes ilhas de inteligência da pessoa com autismo e defende que, para quebrar estigmas, é preciso continuar incentivando uma prática de educação que não tente padronizar o desenvolvimento, mas leve em conta as singularidades e diferentes habilidades de cada um.


Nesse sentido, a Escola Municipal Engenho do Meio é referência na educação especializada. Atuando com tecnologias assistivas, a escola oferece softwares e máquinas específicas para atender a demanda de cada aluno, variando de acordo com o seu perfil. Tais modificações, segundo Magda Bezerra Prado, são essenciais no auxílio educativo, pois não transformam as ferramentas apenas em máquinas, mas levam em conta a capacidade de cada usuário.
Softwares especiais facilitam a digitação de crianças com restrições motorasSoftwares especiais facilitam a digitação de crianças com restrições motoras - Crédito: Julya Caminha/Folha de PernambucoAlém disso, no acompanhamento para alunos dentro do espectro autista, escolas têm a obrigação de fornecer assistência na sala de aula regular e atendimento especializado. Muito bem assistidos na Escola Municipal Engenho do Meio, os frequentes "não", a falta de apoio e cobranças ilícitas em outros colégios é narrativa comum aos pais que lá chegam em busca do prometido tratamento de referência. Ao todo, 33 crianças autistas são atendidas pela escola.

"Aqui eu vejo que não há essa coisa de 'ser especial', aqui todos são iguais, sem discriminação. Os meninos abraçam o meu filho e todos me conhecem como 'o pai de Carlos'", revela o músico, Carlos Almeida, 39 anos, pai de Carlos Júnior, aluno da escola. Junto com outros pais, Carlos participa ativamente da programação escolar, constituindo também um grupo que luta por mais assistência na instituição e, junto com a escola, dialoga com a Secretaria de Educação do Recife

Para esses pais, a preocupação não é apenas individual, o grande senso de coletividade os fazem abraçar a causa e se relacionar com outras famílias que lidam com o diagnóstico do Transtorno de Espectro Autista. “Minha maior preocupação hoje é como vai ser depois daqui”, desabafa Carlos. Por isso, os pais lutam no diálogo com a prefeitura para que os alunos continuem sendo acompanhados, novas vagas abram no colégio e o déficit de acompanhantes seja sanado.

Essa preocupação se faz pertinente, pois, como Carlos aponta, “um dia sem aula para uma criança autista, é um dia perdido”. Sem acompanhamento qualificado - que deve ser garantido pelas escolas, tanto públicas, como privadas - muitas dessas crianças não conseguem ir ao colégio, retardando o progresso feito com a educação assistiva.

No que diz respeito às necessidades de melhorias na educação para pessoas com autismo, Magda Bezerra Prado complementa “se a gente for olhar só as impossibilidades, a gente esquece de perceber, de fato, quem é essa criança na sua singularidade”. Neste sentido, os profissionais da Escola Municipal Karla Patrícia, resolveram ser um “sim” em uma vida de tantas negações para o estudante José Vinicius Iunskoski, de 13 anos.

Percebendo sua paixão pela vida marinha e os aquários, os professores de José Vinícius o incentivaram a pesquisar a respeito e ser premiado em um projeto para filtragem de aquários marinhos. De acordo com Ana Carmem Diniz, 40 anos, mãe de Vinícius, “ele pesquisou muito na internet, tudo que ele gosta ele vai fundo e estuda”. Agora, expondo em uma feira de ciências nacional, o aluno promete “eu vou melhorar esse projeto”.

São as vivências de famílias reais que sensibilizam o tratamento do Transtorno de Espectro Autista. Longe de preconceitos carregados por tanto tempo, é cada vez mais necessário uma abordagem afetiva às singulares. O músico Carlos Almeida, pai de uma criança, conclui “Hoje eu me sinto privilegiado, mudei muito e aprendi a ser humano com meu filho. Se não nos apegarmos ao dinheiro e tivermos amor e dedicação, muita coisa se resolve. Se tivermos menos egoísmo, podemos ajudar o próximo”.

Por: Débora Aleluia /FolhaPE

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