A sociedade atual está atravessando um processo de mudança em sua essência. As atividades do cotidiano, que já estavam em nossa memória, se modificaram e isso causou um impacto gigante em nossas vidas, bem como na maneira como construímos e compreendemos as informações que nos cercam.
Mudar significa motivar-se para o movimento, isto é, nosso sistema nervoso deve trabalhar em nosso favor, compondo redes neurais que favoreçam a mudança de modo positivo. Sendo assim, quando falamos em mudança, nos referimos a sair do conforto do conhecido e do habitual, seja em uma relação (social ou amorosa), trabalho ou mudanças físicas.
Porém, na verdade, somos resistentes a mudança pela familiaridade que desenvolvemos com nosso padrão e nossas memórias já consolidadas, pois tais experiências nos provam a todo momento que permanecer no habitual é o correto.
Geralmente, o que nos é conhecido não precisa ser mudado, até que comece a causar algum sofrimento. Muitas perturbações psicológicas iniciam porque o indivíduo tem que se adaptar a uma nova condição, porém, isso leva resiliência e disposição, além de tempo para investir em um processo de mudança.
O papel da memória
É importante dizer que a memória é de extrema importância para nossa vida. Tal processo psicológico é responsável por decodificar, recuperar, eventos passados e lembrar os eventos do futuro. Dessa forma, tudo o que já faz parte do processo de memória só precisamos acessar, pois não existe a conscientização e planejamento do que fazer.
A resistência para mudança também passa pelo processo de memorização e nossos hábitos. Nesse sentido, “um hábito é um tipo de memória consolidada sobre a qual nós temos menos consciência sobre, ou seja, executamos algo a partir do piloto automático”, explica a neuropsicóloga Rochele Paz Fonseca.
Nosso cérebro é projetado para lidar com mudança, pois trata-se de um processo evolutivo, entretanto, quanto menos nos conscientizamos desse processo, menos intencional ele se torna e mais difícil ele fica.
Dessa forma, quando atuamos de forma mecânica, as funções executivas, aplicadas pelo córtex pré-frontal, ficam comprometidas, pois não precisamos usar o controle inibitório para filtrar pensamentos, gerenciar emoções ou pensar antes de agir.
Então, o processo de mudança fica prejudicado, uma vez que é mais difícil nos adaptarmos as demandas do cotidiano ou usar criatividade para chegar à resolução de um problema. Ficamos presos no mesmo padrão e postergamos a mudança.
Por que é tão difícil mudar?
Como vimos, pessoas costumam encontrar-se em situações habituais e não conseguem mudar. Porém, como podemos entender melhor essa situação? Bem, para isso iremos utilizar de um exemplo capaz de ajudar a entender o caso.
Então, imagine como se você estivesse em um labirinto. Quanto mais você tenta acertar o caminho, mais em direção ao interior do labirinto você vai. Entretanto, em um certo momento, você se sente estressado, ansioso e, muitas vezes, triste, pois todas as saídas parecem fechadas.
Dentro desse contexto, quando uma situação toma conta de sua vida é natural que as emoções venham à tona. Em um diálogo fisiológico, a amígdala, uma parte bem pequenininha em nosso cérebro, começa a se sobrepor sobre as decisões do córtex pré-frontal, e nos faz reagir emocionalmente, seja de uma maneira regulada ou não.
Agora, imagine viver em um constante labirinto. De um jeito ou de outro, você se adapta aquilo, porém, deixa de perceber qual é sua postura e não pensa como se houvesse um outro padrão. A dificuldade de mudar existe porque não refletimos sobre nossas atitudes, já que estamos no piloto automático.
O processo da mudança
A vida é feita de transformações e quanto mais resistimos a isso, mais difícil é a aceitação. Todas estas situações implicam em voltar suas energias para concretizá-las, ou seja, é preciso um investimento mental e psicológico para tal.
Mudar requer um conjunto de habilidades emocionais e racionais, pois, assim, tais mudanças realmente serão profundas e não superficiais. O processo de mudança vai além de um processo emocional, ele é biológico e físico, já que envolve fatores que nem sempre partem da força de vontade.
De acordo com Daniel Goleman, o pai da inteligência emocional, para uma mudança positiva precisamos de: motivação, apoio, avaliação, planejamento e prática. Basicamente, são pequenos passos que podemos dar a partir da consciência, do gerenciamento das emoções, do gerenciamento social e da consciência social.
Sendo assim, para realizar mudanças é importante ter em mente um processo longo e, em alguns momentos, falhos. Dessa forma, vale saber que as condições memorizadas e familiares ao seu cérebro serão a força contrária ao objetivo. Por isso, comece a mudar mesmo que seja difícil, porque iniciar um processo pode lhe trazer a confiança para continuar.
Técnica SMART
Tudo bem falhar durante um processo de mudança. Tudo bem faltar coragem. Não é preciso culpar-se por isso, às vezes, nem tudo é preto no branco. Então, que tal experimentar uma técnica para aumentar a probabilidade de sucesso na mudança?
A técnica de planejamento “Smart” ajuda a tornar o seu objetivo real. Por isso, aceite suas limitações e faça com que elas trabalhem a seu favor. Não tenha pressa e realize com calma cada uma das etapas.
Specific (Específico)
É preciso ter um objetivo específico para realizar a mudança. Seja uma semana, um mês ou um ano. Tente trazer para sua realidade. Se há uma dificuldade em executar uma tarefa, seja ela emagrecer ou melhorar sua comunicação em seu relacionamento, tenha claro que não será em dois dias que isso se construirá. Seja gentil com você mesmo.
Measurable (Mensurável)
Aqui, você terá que ser capaz de medir o seu objetivo. Então, se você pretende praticar atenção plena, por exemplo, você pode medir quantas atividades por dia você pode executar estando presente no momento. Ou, se você quer melhorar sua comunicação, veja quantas vezes conseguiu expressar-se assertivamente. Lembre-se de sempre voltar em seu objetivo específico.
Attainable (Alcançável)
Não coloque um peso maior do que você pode carregar. A intenção é fazer com que você se desenvolva positivamente e não trazer mais um problema para você lidar.
Relevant (Relevante)
O objetivo deve ser relevante e ter sentido para você e sua vida. Cuidado com ideias pré-concebidas, pois elas também podem interferir em seu processo de mudança.
Time-based (Temporal)
Pense em quanto tempo você deseja alcançar o seu objetivo. Leve em conta sempre como se sente em relação ao seu objetivo. Mude se for preciso, adapte-se e tente um outro caminho, quem disse que não pode?
Dicas para mudar
Mudar pode ser um processo doloroso. Embora o ser humano seja instrumentado para isso, às vezes, as emoções falam mais alto. Então, é importante saber da dificuldade, além de compreender que somos capazes para isso,
Uma dica: deixe uma nota em seu celular ou mural com os dizeres “Sou capaz de mudar e posso tropeçar, mas sou capaz de mudar”. A técnica do cartão de enfrentamento serve para lembrar que é seu direito mudar, embora seja difícil.
Além disso, a mudança implica em conscientizar-se da necessidade. Por isso, exercícios de meditação guiada e mindfulness são possibilidades de aprendizado para focar no momento presente. Procure estar presente no aqui e no agora, mude o que você é capaz de mudar e simplesmente aceite aquilo que não é possível agora.
Por fim, observe seu vocabulário, o que você não faz agora, e o que ainda não é possível ser feito. Procure falar de seus atos e de seu temperamento como entidades separadas. Você pode não aprovar sua conduta para tal situação, mas isso não quer dizer que você seja uma pessoa ruim.
Psicóloga Priscila Peruchi/Telavita
Nenhum comentário:
Postar um comentário